Soja para prevenção de câncer de mama?
A literatura médica atual sugere que o consumo de soja pode ter benefícios na prevenção do câncer de mama, principalmente devido à presença de isoflavonas, como genisteína e daidzeína, que são fitoestrógenos com estrutura semelhante ao estradiol humano. Esses compostos podem se ligar aos receptores de estrogênio, exercendo efeitos estrogênicos ou antiestrogênicos dependendo do contexto.[1-2] Estudos epidemiológicos e meta-análises indicam uma correlação inversa entre o consumo de isoflavonas de soja e a incidência de câncer de mama. Por exemplo, uma meta-análise encontrou uma redução significativa no risco de câncer de mama em mulheres pré e pós-menopáusicas com alto consumo de isoflavonas.[1] Outro estudo prospectivo com 70.578 mulheres chinesas mostrou que a ingestão de soja na idade adulta estava associada a uma redução no risco de câncer de mama, especialmente em mulheres pré-menopáusicas.[3] Além disso, a revisão sistemática de Fritz et al. sugere que a ingestão de soja, em níveis consistentes com uma dieta tradicional japonesa (2-3 porções diárias, contendo 25-50 mg de isoflavonas), pode ser protetora contra a incidência e recorrência do câncer de mama, sem aumentar os níveis circulantes de estradiol ou afetar tecidos-alvo responsivos ao estrogênio.[4] A American Cancer Society também reconhece que alimentos à base de soja podem ter múltiplos efeitos benéficos à saúde e que o consumo de soja em alimentos é seguro para sobreviventes de câncer de mama.[5-6] Mecanisticamente, a genisteína, uma das principais isoflavonas da soja, tem demonstrado inibir várias etapas da carcinogênese, incluindo a angiogênese, através da regulação de múltiplas vias de sinalização, como VEGF, MMPs, EGFR, NF-κB, PI3-K/Akt e ERK1/2.[7] Esses efeitos antiangiogênicos são cruciais, pois a angiogênese descontrolada é um passo chave no crescimento, invasão e metástase do câncer. No entanto, é importante notar que a maioria das evidências provém de populações asiáticas, onde o consumo de soja é tradicionalmente alto. A relevância desses achados para populações ocidentais, que consomem soja em níveis muito mais baixos, ainda não está completamente estabelecida.[5] Além disso, o uso de suplementos de soja contendo fitoquímicos isolados não é recomendado devido à falta de evidências de segurança e eficácia.[5] Em resumo, a ingestão de soja, particularmente em formas alimentares tradicionais, pode estar associada a uma redução no risco de câncer de mama, especialmente em mulheres pré-menopáusicas, sem evidências de efeitos adversos significativos. No entanto, mais estudos são necessários para confirmar esses achados em diferentes populações e para avaliar a segurança de doses elevadas de isoflavonas.